Thiago Lavor
Por Christian Carvalho Cruz
25/08/2004
ISTOÉ DINHEIRO
O telefone tocou bem no meio da reunião sobre a nova coleção de bermudas para surfe. Era 1997 e havia 11 anos o gaúcho Oskar Metsavaht levava uma vida dupla. De um lado, o doutor Metsavaht, ortopedista de tradicional família de médicos, pós-graduado pela Université de Pitié-Salpêtrière, em Paris, e com um clínica bem freqüentada no Rio de Janeiro. Do outro, o Oskar da Osklen, dono de uma marca de roupas esportivas, surfista, esquiador, alpinista, estilista, aventureiro. “Doutor Metsavaht, o paciente...”, tentou dizer a secretária. “Diga que não estou”, interrompeu, irritado, Metsavaht. Silêncio. Jamais ele tinha feito aquilo. Os pacientes sempre tiveram prioridade. O ortopedista-estilista concluiu o óbvio: “Não dava mais para continuar com as duas coisas”. Pior para a ortopedia. O doutor Metsavaht virou o Oskar da Osklen em tempo integral e desde então vem construindo uma das grifes de moda jovem mais admiradas do País. A Osklen tem 30 lojas no Brasil (está abrindo mais sete este ano, uma delas na disputadíssima esquina das ruas Augusta e Oscar Freire, em São Paulo), duas em Portugal, 200 funcionários, cresce 50% ao ano e exporta para sete países. “E temos propostas para ir para Estados Unidos, Inglaterra, Itália e Alemanha”, comemora ele.
ESTILO destacado pela imprensa internacional
A Osklen (mistura dos nomes Oskar, Leonardo, seu irmão, e Milene, uma antiga namorada) é a cara do dono – e daí vem o seu sucesso. Metsavaht, de 43 anos, é um camarada que faz ioga na praia, defende o meio ambiente, surfa no Taiti, esquia nos Alpes e se locomove a maior parte do tempo de lambreta ou skate. É um romântico, como definiu a revista japonesa Pen, da qual ele foi capa da última edição. Sua marca reflete o seu estilo de vida. “A Osklen sofisticou o sportswear, deu um ar de luxo despojado à roupa do dia-a-dia”, diz a consultora de moda Emanuela Carvalho. Enfim, a Osklen faz roupa para o “neo jet set”, como diz o próprio criador. Traduzindo: gente que pode ir quando bem entender à Polinésia, mas não perdeu a capacidade de se encantar com uma casinha rústica na Praia do Matadeiro, em Florianópolis. É esse pessoal que paga R$ 200 por um bermudão da Osklen e que está tornando a marca conhecida. Não à toa, Metsavaht é procurado para fazer intervenções artísticas em produtos e marcas. Ele já desenhou o interior de um Cherokee para a Chrysler, assinou vitrines da Cartier e recriou trabalhos de Andy Warhol para a Coca-Cola.
SNOWBOARD, ioga, ecologia e bermudas a R$ 200
E pensar que Metsavaht começou da maneira mais improvável possível: vendendo casacos para neve em pleno Rio de Janeiro. Em 1986, aos 25 anos, ele integrou uma expedição ao Aconcágua, na Cordilheira dos Andes. Era o médico da equipe e desenvolveu, ele mesmo, oito casacos para suportar o frio. “Passamos 31 dias na montanha a 30 graus negativos”, relembra. Na volta, o jovem médico já tinha amigos batendo à sua porta em busca do tal casaco. Dois anos depois, abriu uma lojinha em Búzios (RJ). Torrou tudo o que tinha: US$ 7 mil. “Mais tarde quase quebrei porque eu não tinha capital de giro. Na verdade, eu nem sabia o que era isso”, admite. O mais difícil, no entanto, foi contar ao sogro, o banqueiro
Antônio Carlos de Almeida Braga, o Braguinha, do Icatu, a decisão de abandonar
a medicina. Ele não fez comentário, mas o genro sabe o que ele pensou: “Casei minha filha com um médico que agora vai ser vendedor de roupa”. Mas tudo ficou bem. Braguinha até emprestou uma de suas melhores executivas para cuidar
das finanças da Osklen tempos depois.
Oskar Metsavaht - Bota Pra Fazer (Making Of)
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