quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Para pensar: Seja diferente e fique rico, ou tente ser o melhor e fique frustrado

Fonte: Blog PME EXAME
Por Pedro Mello | 04/08/2009 - 16:44

Recebi uma das pérolas que o Ricardo Jordão, dono da BizRevolution, escreve de tempos em tempos e pedi para publicá-la aqui. Apesar de ser longo, muuuuito looooooongo, o texto está bem escrito e vale a pena gastar seu tempo nele para pensar um pouco sobre posicionamento de produto, marca e preço.

Você já deve ter visto aquele famoso comercial de televisão onde a Pepsi pede para as pessoas beberem de dois copinhos brancos marcados apenas com as letras A e B. Em um dos copinhos as pessoas tem Pepsi no outro as pessoas tem Coca Cola. Após experimentar os dois copinhos, as pessoas - sem saber qual é o copinho de Coca e qual é o copinho de Pepsi - escolhem a Pepsi (pelo menos é o que aparece no comercial da Pepsi). No final do teste, a Pepsi anuncia, `Tá vendo, a voz do povo é a voz de Deus, e a voz do povo tá dizendo que Pepsi é melhor que Coca Cola´.

No teste do quem é o melhor, a Pepsi faturou, mas, no teste da rua, do boteco, do restaurante, do supermercado, quem ganha sempre é a Coca Cola. Apesar do esforço centenário da Pepsi em virar o jogo, a Coca Cola continua nadando de braçada nos tonéis de cola. O erro da Pepsi é tentar ser melhor que a Coca Cola. Não vai rolar.

Marketing não é sobre ser o melhor - tanto porque melhor é muito relativo. Marketing é sobre ser DIFERENTE. Vence quem for PERCEBIDO como DIFERENTE e não quem for percebido como MELHOR. Seja DIFERENTE! Tenha CORAGEM, e seja DIFERENTE; ainda que DIFERENTE signifique tecnicamente que você seja pior que o seu concorrente.

Lembre-se: pior também é relativo. Mesmo que o resto da empresa diga que o negócio é Six Sigma, benchmarking, qualidade, corte de custos, eficiência da máquina administrativa - nada contra essas práticas; se você quer liderar algum mercado, seja DIFERENTE.

No mundo das pessoas perfeitas o melhor produto talvez vença. O fato é que não vivemos no mundo perfeito (ainda bem), mas no mundo REAL, onde o melhor produto não ganha nunca. No mundo real quem ganha é quem é DIFERENTE.

Vou falar por mim.

1. O meu smartphone é o iPhone. Teoricamente ele não é mais barato que os coreanos, e nem tem todas as funções e botões dos finlandeses. E daí? Eu não me importo. O meu smartphone é e sempre será o iPhone. Por que? Porque ele é diferente. Ele tem uma lojinha na web chamada iTunes que é diferente da lojinha quadrada da Nokia; ele tem um jeito de manusear fotos e vídeos diferente de todos os outros. A expansão das suas funcionalidades é diferente de todos os modelos existentes. Até a caixinha do produto e o seu manual de instruções são diferentes de tudo que havia sido lançado até então no mercado de celulares. Enfim, o bicho é diferente em todos os aspectos. Não sei se é melhor ou pior, e não me importo com isso, uso porque é diferente.

2. O meu notebook é um Sony Vaio. Teoricamente ele não é barato que o note da Dell, ou melhor que o note da HP, não me importo com isso. Na hora da compra ele venceu porque tinha uma oferta DIFERENTE. Fiquei entre ele e o note da HP, mas ele venceu porque tinha 2 gigas de memória a mais, um disco mais rápido, um brilho maior. Se ele é o melhor da parada? Não sei, não interessa, não vou visitar o site dos caras para descobrir, eu comprei porque a oferta deles era diferente. Ponto.

3. Ontem eu papei a pizza da Oficina da Pizza na Vila Madalena. Os fãs do lugar adoram a pizza de lá, os mais fanáticos dizem que a melhor de São Paulo. Não, não é a melhor de São Paulo. E se for também não me importo, não dá para saber, não dá para medir. Eu fui lá porque a pizza de lá é diferente. No formato, no sabor, na aparência do lugar, na maneira que o garçom te serve. A música ambiente é diferente, a decoração do ambiente é diferente, o cheiro, as pessoas, tudo é diferente. O lugar é diferente, nem pior nem melhor, diferente. Mesmo porque a qualidade de uma pizza é diretamente proporcional ao tamanho da sua fome.

4. Dias atrás eu fui assistir ao badalado Inimigo Público com Jonnhy Deep. Na sala ao lado estava rolando um filme francês daqueles que são premiados em algum festival de Cannes por aí. Teoricamente, o filme francês sobre filosofia e questões da vida é melhor que um filme sobre gangsters. Mas e daí? Inimigo Público é dez. É melhor que o francês? Não sei, não me importo, esse não é o ponto. O filme é diferente. Filme diferente vence sempre.

5. O videogame do filho do meu amigo é o Wii da Nintendo. Os meus tempos de tarado por videogame (Megamania, Full Throtlle, Star Wars) já eram (pelo menos por hora), mas ainda assim eu sei distinguir um game graficamente melhor de um game graficamente sofrível. Os games do Wii são terríveis medíocres feios e chatos, mas estão dando uma lavada em vendas em cima dos games do XBox e Playstation 3 com seus gráficos melhores e de alta qualidade. Por que? Porque todo mundo quer saber o que tem de tão diferente nesse tal de Wii. É que nem com as sandálias Croc, que de tão diferente que eram, viraram febre mundial, e agora, sumiram.

6. A luminária que fica debruçada sobre o meu notebook é de uma marca xingue-lingue safada meio profissa comprada duas semanas atrás na C&C Materiais de Construção. Eu não comprei a luminária mais barata, ou a mais cara, ou a de melhor qualidade. Eu comprei a luminária que tem uma envergadura X que me permite debruçá-la sobre o meu notebook. A luminária é meio feinha, 40% mais cara que as outras que estavam em exposição, mas é diferente de todas as outras na sua capacidade de envergar (será que existe esse verbo? Não sei, mas é um verbo diferente).

É claro que eu encontraria luminárias mais baratas que a luminária que eu comprei no shoppping na C&C se eu tivesse investido duas horas do meu tempo para camelar no shopping da 25 de março. É claro que eu encontraria luminárias mais baratas que as luminárias da 25 de março se eu camelasse por duas horas no bairro do Brás. É claro que eu encontraria luminárias mais baratas que as luminárias do Brás se eu camelasse por duas horas na Santa Ifigênia.

Mas quem é que realmente faz isso? Quem realmente esgota todas as possibilidades de comprar o produto mais barato antes de fechar uma compra? 0,5% da população? E ainda assim, podemos sempre encontrar opções mais baratas que as opções mais baratas. Você sempre vai encontrar um peixe maior ou mais barato no oceano se você procurar. Mas eu simplesmente não tô afim de fazer uma peregrinação como essa para comprar uma luminária. Venceu quem tinha a envergadura diferente. Vence sempre quem é DIFERENTE, e não quem é melhor.

A verdade é: EXISTE POUCA OU NENHUMA COMPARAÇÃO de produtos no ponto-de-venda. O cliente compara no máximo duas ou três características e olhe lá. Na grande maioria dos casos o cliente não entende nada do que está sendo falado pelo vendedor, pelo material do ponto de venda ou pela embalagem do produto. Na grande maioria dos casos o cliente escolhe o produto a partir de uma ÚNICA DIFERENÇA.

Nunca foi tão difícil comprar uma televisão. Veja o nome de um dos modelos de televisores em exposição nesse momento no Submarino: Televisor 29 Ultra Slim Line com Crystal Clear 29PT9467C Philips. Se o nome não ajuda, as especificações técnicas são um show de horror, confira: Smart Picture, Smart Sound, Imagens naturais expandidas em tela cheia 4x3, Entrada Vídeo Componente, Entrada S-Vídeo, Incredible Surround, Processamento de imagens 50Hz, 60Hz Analógico, Fácil de usar Controle Smart Picture e por aí vai. Depois a Philips não entende porque iPod e iPhone vendem mais que os produtos deles.

A estratégia de ser melhor que o concorrente leva você a fazer seis coisas porque o concorrente faz cinco coisas.Leva você a oferecer seis lugares porque o concorrente oferece cinco. Leva você a vender por 98 reais porque o concorrente vende por 99 reais. Pare de pensar sobre ser melhor que os outros. Vence sempre quem é DIFERENTE.

O melhor morre estressado, o diferente vive, cresce, sorri, respira e se diverte. O mundo dos negócios é coisa para maluco.

Seja maluco! Aproveite o momento quadrado em que vivemos para ser maluco. Estamos cercados de pessoas conservadoras. A juventudade de vinte e poucos anos é ultra conservadora. Pergunta para eles o que eles querem mudar, e você vai obter uma resposta do tipo, `eu quero mudar a versão do meu ipod, eu quero mudar o tamanho da televisão do meu quarto, eu quero mudar de nariz, de namorada, de carro´.

Aproveite essa maré de conservadorismo em que vivemos que diz que devemos levar tudo com calma, sem provocar rupturas, desentendimentos, blá blá blá, e seja louco, maluco, esquisito, DIFERENTE.

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