segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Richard Branson: 'Nos negócios, o que importa é conseguir criar algo especial'


Por Laura Ming

Ele começou seu império vendendo discos. Trinta e oito anos depois, o bilionário britânico Richard Branson comanda mais de 400 empresas e investe em áreas tão diversas como turismo espacial e combustíveis menos poluentes. De Necker Island, ilha carbenha onde mora, o empresário falou a VEJA.

O senhor tem mais de 400 empresas. Como faz para administrar todas?
É claro que não consigo acompanhar todas, mas tenho uma equipe competente em que confio. São mais de 70.000 empregados sendo comandados por pessoas muito competentes. Eu tento não interferir muito, deixá-las à vontade para experimentar e até mesmo errar. Prefiro elogiar a criticar, para sempre ter a equipe motivada.

E o que todos os empreendimentos Virgin têm em comum?
Nós somos a empresa que gosta de investir nos azarados, não nos que já são um sucesso. Na Fórmula 1, escolhemos uma equipe pequena para investir (Brown GP), e conquistamos o campeonato. Na aviação, somos a empresa pequena que enfrenta a British Airways. Quando as viagens espaciais estiverem viabilizadas, quero que sejam acessíveis para todas as pessoas. Tentamos não nos levar muito a sério e nos divertir bastante.

Este ano o senhor investiu na Fórmula 1. Como foi essa decisão?
Como disse, adoro investir nos azarões. Quando a Honda decidiu sair da Fórmula 1, parecia que [Jenson] Button não poderia participar. A equipe precisava de pouco dinheiro para a primeira corrida e um amigo meu, que era piloto de teste do carro deles, disse que eles tinham potencial. Então resolvi investir. Peguei o último avião para a Austrália com alguns adesivos da Virgin na minha maleta. Quando cheguei a Melbourne, colei pessoalmente o patrocínio no carro de corrida. E começamos bem. Eles chegaram em primeiro e segundo lugares. Foi super divertido. Mas como gosto dos azarões, acho que não vamos patrocinar a equipe novamente no próximo ano. Talvez eu procure uma equipe que esteja começando. A boa notícia é que Brown agora está estabelecida e é um sucesso.

Falando em azarões, o senhor tinha o Rubens Barrichello em sua equipe.
Vocês, brasileiros, deveriam ter orgulho dele. Ele é uma ótima pessoa, foi um prazer trabalhar com ele todo esse tempo. Eu estava torcendo pelo Rubens Barrichello, mas não funcionou. Acho-o um grande corredor. Ele teve azar nessa corrida, mas ter o Brasil na pole position não é pouco. Além disso, ele tem carisma, e muitas pessoas na Fórmula 1 torcem por ele.

E no Brasil, o senhor não pensa em investir?
Certamente, mas ainda não tenho um plano definido. Primeiro, pensamos em criar uma linha aérea doméstica no Brasil, mas isso ainda está em fase de análise. Meu próximo projeto é investir no etanol. Criamos um tipo de etanol que pode ser usado em aviões, então estou conversando com alguns fazendeiros brasileiros para ver a viabilidade dele ser produzido aí. Além disso, vocês serão sede da Copa do Mundo e da Olimpíada, seríamos bobos se não investíssemos no Brasil. Deve ser um momento de orgulho para os brasileiros.

O senhor já esteve aqui?
Ainda não. Eu quase fui para aí, para assistir à corrida em Interlagos. Mas muitas pessoas me disseram que São Paulo não deveria ser a minha impressão do país. Mas o Brasil parece um país incrível de ser viver, a economia está melhorando, vocês são um povo criativo, inventaram o combustível de cana de açúcar, depois descobriram novas fontes de petróleo e até desenvolveram bons aviões. A minha frota da Austrália é da Embraer e estou estudando comprar novos modelos para a Virgin americana também. Claro que há problemas com a criminalidade, mas tenho certeza que serão superados.

Quanto custará ir ao espaço?
Viajar para o espaço ainda é caro, custa 200.000 dólares, mas note que é muito menos do que o custo de uma missão espacial russa, que é de 25 milhões de dólares. E acredito que através dos anos conseguiremos fazer o preço baixar bastante, muitas pessoas poderão se tornar astronautas e conhecer o espaço. Será uma viagem regular. Já a viagem ao fundo do mar será bem mais barata, mas ainda não calculamos o preço.

E o senhor tem planos de ir para o espaço?
Óbvio que vou. Quando tivermos a primeira viagem da Virgin Galactic eu estarei lá com meus pais e com os meus filhos. Teremos os astronautas mais jovens e mais velhos da História na mesma espaçonave.

E dirigir carros de Fórmula 1, já tentou?
Sim, já estive em uma corrida, mas eu fui tão mal, fiquei tão atrás, que achei fossem se confundir e pensar que eu estava na frente. Eu amo aventuras, mas sou um péssimo motorista. Prefiro os barcos, os balões. Gosto de me testar e descobrir do que sou capaz. Acabei de tentar quebrar o recorde de travessia de vela com meus filhos, mas uma tempestade nos obrigou a abandonar a viagem.

O senhor não tem medo de morrer?
Não. Nas minhas viagens de balão já tive que ser resgatado de helicóptero cinco vezes. É difícil planejar o balão. Mas gosto do desafio de tentar fazer coisas que ninguém nunca conseguiu. Uma vez saí do Japão com destino a Los Angeles, mas acabamos no Ártico. Errei feio e tive que ser resgatado por helicópteros. Já tentei dar a volta ao mundo de balão em oito ocasiões diferentes. Claro que às vezes eu tenho medo, mas se alguém me dá a chance de dar a volta ao mundo em um balão, ou de conhecer o espaço, ou de quebrar o recorde de vela, vou me arrepender se disser não. Na vida, dizer sim pode te trazer problemas, mas é muito mais divertido do que dizer não.

Quando o senhor descobriu que era disléxico? Isso o atrapalhou na carreira?
A palavra dislexia não era conhecida quando eu estava na escola. Só muito depois eu descobri que esse era o problema que eu tinha. Como não conseguia acompanhar as aulas, acabei largando a escola aos 15 anos de idade. Na época eu fazia uma revista para atacar a guerra americana no Vietnã. Foi meu primeiro empreendimento. Tive que me esforçar muito para publicá-la.

O senhor teve medo de ser um fracasso?
Eu estava muito ocupado com minha revista, não tive tempo para pensar que não estava tendo uma educação formal. Mas acho que uma das coisas positivas de ter dislexia é que você tenta caprichar nas coisas que você é bom e você deixa as coisas que não consegue para outras pessoas. Eu sou muito bom em delegar trabalho para outras pessoas, em achar boas pessoas e ter uma equipe competente ao meu redor.

Mas o senhor não é bom em matemática. Como ser um empresário sem fazer contas?
Para se ter sucesso você precisa ser bom em criar coisas. Ser um empreendedor não é tão diferente de ser um pintor, que a partir de uma tela branca tenta criar algo lindo que certamente alguém irá comprar. Como um empreendedor, eu tento criar algo especial, capricho em todos os detalhes. Então as pessoas gostam do que você criou e daí você consegue pagar as contas. Mas eu nunca começo um empreendimento pensando quanto aquele negócio pode me render. Eu só invisto se acho que posso criar algo realmente especial, novo. Para fazer as contas eu contrato alguém bem competente em finanças. Nos negócios, o que importa é conseguir criar algo especial.

É verdade que o senhor tem aversão à tecnologia?
Estou melhorando. Tenho um notebook onde escrevo minhas idéias, mas se não estou com ele, escrevo na palma da minha mão para não me esquecer. O problema é que se lavo, eu perco as informações. Antes eu não usava internet, mas é inviável, ainda mais morando em uma ilha. Agora eu tenho até um BlackBerry, mas quando preciso, são minhas secretárias que me ajudam com a internet.

As lojas de música Virgin, que alavancaram seu império, estão todas fechadas?
Sim, fechei quase todas. Foi triste ter que vendê-las, mas as lojas de música são coisa do passado. O mercado de música era ótimo há 30 anos, mas não há espaço para elas com a possibilidade de fazer downloads pela internet. Mas foi ótimo para a marca, e temos que aceitar que nada para é sempre. Agora invisto em grandes shows ao vivo. O maior evento de música do mundo é da Virgin, na Inglaterra, que atrai 200.000 pessoas em um final de semana. Esse é o futuro.

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